Rússia retoma ataques aéreos na Ucrânia após tréguas
A Rússia lançou mísseis e drones contra a Ucrânia na madrugada desta segunda-feira, acordando Kiev e a metade oriental do país, horas depois de ter terminado o cessar-fogo de um dia na Páscoa declarado pelo presidente russo Vladimir Putin.
“Apelamos aos residentes da cidade para que se dirijam imediatamente para os abrigos mais próximos e aí permaneçam até ao fim do alerta”, afirmou a administração militar de Kiev.Segundo a Força Aérea ucraniana, a Rússia lançou 96 drones e três mísseis em ataques noturnos contra a Ucrânia, causando danos nas regiões de Kharkiv, Dnipropetrovsk e Cherkasy.
Não houve relatos de ataques à capital ucraniana, mas as autoridades da cidade portuária de Mykolaiv disseram que esta tinha sido atingida por mísseis russos. Não houve relatos imediatos de danos.
“O exército russo lançou drones sobre a região de Dnipropetrovsk”, declarou o governador da região do leste da Ucrânia, Sergei Lyssak. Uma casa ficou danificada e um incêndio deflagrou numa fábrica de alimentos. Não há relato de feridos.
Já Vitaliï Kim, governador da região de Mykolaïv, no sul da Ucrânia, afirmou que os ataques aéreos russos também recomeçaram na região.
“Na manhã de 21 de abril, o inimigo atacou a cidade com mísseis, cujo tipo ainda está a ser determinado. Não se registaram vítimas nem danos”, escreveu no Telegram.
Embora não tenha havido alertas de ataques aéreos na Ucrânia no domingo, as forças ucranianas relataram quase três mil violações do cessar-fogo da Rússia, com os ataques mais pesados e bombardeamentos vistos ao longo da parte Pokrovsk da linha de frente, afirmou Zelensky esta segunda-feira.
O presidente ucraniano que aceitou a trégua anunciada pelo seu homólogo russo, Vladimir Putin, tinha afirmado no domingo à noite que as forças russas tinham violado o cessar-fogo “mais de duas mil vezes” durante o dia, sublinhando, no entanto, que não tinham efetuado qualquer ataque aéreo durante este período. Evgueni Mouravith | Correspondente da RTP em Moscovo
Neste contexto, propôs uma prorrogação de 30 dias da trégua sobre os ataques com drones e mísseis de longo alcance contra infraestruturas civis.
Zelensky já tinha referido “operações russas” nos sectores de Pokrovsk e Siversk, na frente oriental, criticando o exército russo por “continuar a utilizar armas pesadas”Soldados ucranianos atacam posições russas
A região russa de Voronezh, que faz fronteira com a Ucrânia, também esteve sob alerta de ataques aéreos durante duas horas durante a última noite, e as regiões fronteiriças de Kursk e partes de Belgorod também estiveram brevemente sob ameaça de mísseis, revelaram as autoridades regionais.O Ministério da Defesa da Rússia disse no domingo que as forças ucranianas dispararam contra posições russas 444 vezes e disse ter contado mais de 900 ataques de drones ucranianos, dizendo também que houve mortes e feridos entre a população civil.
O governador da região de Cherkassy, no centro da Rússia, Igor Taburets, também relatou ataques de drones.
“Nos nossos céus, oito drones foram destruídos pelas forças e meios de defesa aérea”, afirmou no mesmo serviço de mensagens. “Uma infraestrutura foi danificada”, disse, acrescentando que ninguém ficou ferido.
Do lado russo, o Ministério da Defesa informou que os soldados ucranianos tentaram, sem sucesso, “atacar posições russas” nos sectores de Sukha Balka e Bagatyr, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia.
As autoridades russas referiram-se também a ações militares ucranianas contra as regiões fronteiriças russas de Bryansk, Kursk e Belgorod, nas quais “civis foram mortos ou feridos”.
Impasse nas negociações
Tanto Kiev como Moscovo acusaram-se mutuamente de milhares de ataques que violaram a trégua que o Kremlin indicou no domingo que não seria prolongada.
Washington disse que acolheria de bom grado uma extensão da trégua, e o presidente Volodymyr Zelensky reiterou várias vezes a vontade da Ucrânia de interromper os ataques por 30 dias na guerra.
Mas Putin, que lançou a invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022 e que ordenou no sábado a suspensão de todas as atividades militares ao longo da linha de frente até a meia-noite de Moscovo no domingo, não deu ordens para estendê-la.
“Não houve outras ordens”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à agência noticiosa estatal russa TASS, quando questionado sobre se o cessar-fogo poderia ser prolongado.Embora a intensidade dos combates tenha diminuído, as acusações cruzadas demonstram a dificuldade de impor uma cessação das hostilidades, mesmo que curta, mais de três anos após o início da invasão russa na Ucrânia.
Já foram feitas duas tentativas de estabelecer um cessar-fogo desde o início do conflito na Ucrânia, em abril de 2022 e janeiro de 2023, mas falharam quando Moscovo se recusou a silenciar as armas no primeiro caso e Kiev no segundo.
A trégua deste fim de semana foi convocada quando a Rússia afirmava ter retomado a quase totalidade - 99,5 por cento - do território ocupado pelos ucranianos na região russa de Kursk desde o verão de 2024. Um avanço que colocaria de novo toda a frente em solo ucranianoA esperança de Trump
Numa breve mensagem difundida na sua rede social Truth, Donald Trump disse, no entanto, no domingo, esperar um acordo “dentro de uma semana” entre a Rússia e a Ucrânia.
“Esperemos que a Rússia e a Ucrânia cheguem a um acordo esta semana”. “Ambos poderão então fazer bons negócios com os Estados Unidos da América, que estão em plena expansão, e ganhar uma fortuna!”, escreveu o presidente dos EUA.
Na sexta-feira, Trump tinha ameaçado retirar-se das negociações, caso não se verificassem progressos rápidos nas conversações separadas que os seus enviados mantêm há várias semanas com Kiev e Moscovo. Na altura, o presidente dos EUA e o seu secretário de Estado, Marco Rubio, afirmaram que os EUA abandonariam os esforços de paz se não houvesse sinais claros de progressos em breve.
Rubio encontrou-se com líderes europeus em Paris na passada semana para discutir como acabar com a guerra. As fugas de informação sugerem que a Casa Branca está a pressionar no sentido de um acordo favorável ao Kremlin, que congelaria o conflito ao longo da atual linha da frente com mil quilómetros de extensão.
O enviado especial de Trump, Steve Witkoff, sugeriu que a Crimeia e quatro outras províncias ucranianas poderiam ser entregues à Rússia. Os EUA estão a considerar reconhecer a Crimeia como russa e a oferecer a Moscovo outros incentivos, como o alívio das sanções, avançou a Bloomberg.
O Kremlin insiste que os seus objetivos de guerra originais devem ser alcançados. Estes incluem a destituição de Zelensky do cargo de presidente da Ucrânia, bem como a “desmilitarização” do país e a garantia do seu estatuto de “neutralidade” face à NATO.
Desde o desastroso encontro que tiveram em fevereiro na Sala Oval, Zelensky tem procurado melhorar as relações com Washington. No mês passado, a Ucrânia aceitou uma proposta de cessar-fogo de 30 dias dos EUA e está prestes a assinar um acordo na próxima quinta-feira que dá aos EUA acesso a minerais raros.
No entanto, há indícios de que Zelensky está a ficar frustrado com a retórica pró-Putin da Casa Branca. Trump tem exercido pressão sobre a Ucrânia - de facto, cortando a ajuda militar e suspendendo temporariamente a partilha de informações - sem tomar medidas correspondentes contra a Rússia.
No domingo, Zelensky criticou a Fox Television Stations depois de ter transmitido em direto a participação de Putin numa cerimónia ortodoxa de Páscoa em Moscovo com o patriarca russo, enquanto rotulava incorretamente Kiev como parte da Rússia.